domingo, 21 de março de 2010
#2
Tudo vale a pena Se a alma não é pequena."
segunda-feira, 15 de março de 2010
VIII 3. algumas palavras
À minha volta o mar brilhava sob o céu. Cintilava! Pequenos laivos brancos de espumas sobressaiam no azul.
Tinha medo, tinha medo do que me iria acontecer. Dos rostos que iria ver. Seriam tristes e amargurados? Ou alegres e entusiasmados?
O barco era pequeno, de madeira, não trazia muitos passageiros.
Um homem com um rosto tranquilo aproximou-se de mim e disse:
- Bom dia! Olá pequena história! Gostas da paisagem?
E eu respondi: o mar é muito bonito, grandioso e temeroso por um lado, e tranquilizador e relaxante, por outro. Faz-nos pensar...
Sabes história, disse o homem, por vezes é preciso pensar, mas os homens que fizeram História, foram os homens e mulheres que além de pensarem, agiram! E pelos seus actos fizeram História. E essa história é real, faz parte de nós e ensina-nos para agirmos no futuro.
A História olhou para os olhos ternos e brilhantes do homem, um mercador experiente, e pensou que se calhar nem sempre era bom andar à deriva, levada pelas ondas como as deste belo mar. Por vezes era preciso procurar o nosso caminho.
E no seu pequeno coração um pedaço de esperança começou a crescer. E pensou que talvez a sua história se tornasse realidade... E pudesse ser feliz.
O seu coraçãozinho ficou mais aconchegado e mais forte para lutar contra a ansiedade e o medo que sentia do futuro, ou do que ia acontecer, quando aquele barco atracasse."
VIII 2. mapa
sábado, 13 de março de 2010
VIII 1. a largada
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O escritor, que sabia mais de histórias do que a sua história, disse: “Não és apenas uma história imaginada, tu és real, sempre foste, mesmo antes de existires.”. A pequena história disse “Não creio, não creio…”. “Então vamos fazer uma coisa” – disse o escritor – “apanhas aquele barco ali ancorado e vais conhecer o mundo. Decerto, encontrarás muitas vidas que são como tu, talvez menos ponta de sonho, menos ponta de cor, mais pedaço de desespero, de dor… mas no fundo a tua essência…”
E assim foi. Numa manhã de Inverno a história vestiu-se a rigor, impermeável e guarda-chuva, não fossem as gotas apagarem as letras aglutinadas que formavam as palavras aglutinadas que eram no fundo o seu ser e partiu à descoberta das realidades que ela espelhava sem que o soubesse.
Ao passar a plataforma que dava para terra no primeiro cais, onde desembarcou reparou numa velha vestida de um negro tão negro que chamava a atenção por entre as mil e uma cores de todos os outros. O baque no peito de quem encontra alguém conhecido onde não o era capaz de imaginar. De facto, conhecia a velha desde sempre. Dos dias passados ao lado do porto onde agora deambula pela rua. Das semanas deitada na areia à espera. Dos pensamentos que a invadiam sempre que chegava um barco e da desilusão, sempre a mesma, de ver, um a um, os homens ansiosos por chegar a terra a desembarcar. Nunca o seu, jamais o seu haveria de voltar a pisar chão firme, pensava. E não pisou, pelo menos que ela o visse.
Sem ter noção disso sabia tudo sobre a velha. Sabia que no dia em que o negro desbotasse para castanho havia de chegar à cidade um homem ansioso. Sabia do reencontro. Começou a perceber-se. Julgou ser uma coincidência ao embarcar novamente. As coisas reais não podem ser como as coisas das histórias. Lembrou-se de um dia ter falado com uma história sua amiga que descrevia um homem subitamente transformado em barata. Pois claro que as histórias não são como a realidade, concluiu. Viu as amarras a recolher e fixou-se na linha do horizonte. No próximo porto é que podia saber se tinha razão ou não. Não se esquecia que estava farta de ser história. Realidade, ouviu-se num suspiro. Adormeceu.